SE ACORDAS
E NÃO TE LEVANTAS
OS SONHOS PERMANECEM
NO TRAVESSEIRO
Poesia e prosa. Palavra e imagem. Linguagem.
Autora de:
Priscila Prado traz em seu ofício a “militância poética”. O termo, explica ela, é tornar a poesia mais acessível, espalhando ecos pelo mundo afora e tornando a poesia mais presente no cotidiano das pessoas. Esta arte, Priscila domina com excelência. Quem já teve a oportunidade de mergulhar numa das obras da autora, vai entender bem. Sua poesia é desconstruída de padrões, desamarrada de técnicas, rica em metáforas e realidade ainda não percebida. Sutil, bem-humorada, direta e aconchegante, seus poemas jogam não somente com as palavras e seus significados inexplorados, mas com sua plástica, com inversos e reflexos das mesmas, e agora com imagens em fotos que Priscila colecionou durante toda sua vida.
A arte poética de Priscila Prado nos convida a encontros desconcertantes e traz a reflexão de que os encontros do homem no mundo – que é o espaço onde ele se conhece – é desconcertante no que se refere a reconhecer-se no outro; reconhecer seus limites; o desafio do tempo; a beleza, mistério e perigos da natureza; a poesia que tudo permeia e o mais desconcertante dos encontros: encontrar consigo mesmo.
Cassandra Joerke
Priscila Prado é escritora e advogada. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2013 com o livro intitulado ‘Preguiça, coragem e outros bichos’ (Curitiba: edição própria, 2012). Além desse, já publicou outros quatro livros de poesia: ‘A qualquer momento agora’ (Curitiba: edição própria, 2005), ‘No olho do paradoxo’ (Curitiba: Insight, 2015), ‘Alas, pétalas & labaredas (Curitiba: Coletivo Marianas, 2016) e ‘Encontros desconcertantes’ (Curitiba: Insight, 2018).
Priscila escreve como quem desenha a palavra, dá cores à imagem da palavra na retina, engole a palavra para depois pari-la pronta ao verso, à poesia, ao universo da escrita. Priscila acredita no poder transformador da palavra. Leva sempre consigo uma pequena caixinha repleta de tirinhas de versos, para distribuí-los ao acaso, nos diversos lugares por onde naveguem seus passos. Priscila é, de fato, uma autêntica ‘militante poética’: “Eu penso mesmo que a partir da palavra a gente pode criar um mundo melhor”, diz ela. Em Priscila a fé na poesia permite a transformação do mundo para um lugar-comum mais pleno e seguro.
Carioca de nascimento, a escritora tem formação acadêmica em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Apaixonou-se pelo exercício do saber jurídico, porém, nunca se afastou do amor pela escrita que adquiriu desde criança. No ano 2000 desligou-se definitivamente das atividades profissionais como advogada da Caixa Econômica Federal, dedicando-se integralmente à poesia a partir daí. Para Priscila não há como evitar a poesia e a escrita, porque elas sempre a encontram e acabam por povoar completamente seu mundo.
Seu primeiro livro ‘A qualquer momento agora’ (Curitiba: edição própria, 2005) é focado na necessidade de se viver o presente. Nele, a autora traz às bordas da temporalidade diversos poemas sobre o instante. Um longo e demorado instante sorvido até a última gota, no ‘agora’ que se demora entre a dor e o seu apaziguador – o Método Rességuier – método terapêutico que procura harmonizar o corpo sensível, em busca da restauração de um estado de atenção no fluxo interno-externo das sensações. Priscila usa a poesia como forma de se agarrar àquele instante tão longo, em um período de vida em que se vê envolvida com a fibromialgia a lhe atacar o organismo e a busca por mecanismos de cura e de alívio da dor. Vê-se, portanto, nesse ‘inchado agora’, buscando ultrapassar seus limites e urgências. Encontra o Método Rességuier – viver no presente parece ser a única chave que abre a porta da serenidade – e é nesse aprendizado que mergulha a autora, literalmente, dos pés à cabeça, utilizando a poesia como verdadeiro processo terapêutico do corpo, mente e emoções.
Em 2012 publica seu segundo livro, desta vez direcionado ao público infantil, intitulado ‘Preguiça, coragem e outros bichos’ (Curitiba: edição própria, 2012), que lhe rendeu o 4º lugar entre os 10 finalistas do Prêmio Jabuti 2013, na categoria paradidático. É um livro interativo de poesias e editado pela própria autora, ricamente ilustrado por vários artistas. O livro interage com a criança por meio da pintura, ilustração e do ato de escrever seus próprios poemas, possibilitando-lhe o livre exercício da sua veia poética. É um livro vivo, como bem registra a quarta capa: “O livro está vivo: manuseie com cuidado. Nele move-se a palavra “bicho”, com suas patas e pelos. Nele dança a palavra “cores”, com seus brilhos e humores: plural. Escondem-se, também, palavras outras… silêncios… O livro está vivo: pronto – mas nunca acabado. Onde faltar algo: É COM VOCÊ! O livro está vivo: VIVA!”.
‘No olho do paradoxo’, outro livro de poemas da escritora, foi lançado em 2015 (Curitiba: Insight, 2015). De acordo com a poeta, “o olho do paradoxo é este espaço-tempo que habitamos, cada um ocupado em manter-se em equilíbrio – dinâmico, instável, vivo – no meio dos furacões da cotidianidade. Por isso estes poemas provisórios”. O título é quase proposital, porque brinca com o conceito do olho do furacão, onda a calmaria é apenas momentânea, provisória, efêmera. Nessa obra Priscila traz à escrita poética os paradoxos intrínsecos à realidade, trabalhando magistralmente com o binômio ‘espaço-tempo’, bem como com seus ecos e/ou efeitos sobre a psique, o coração, a alma. Ainda que seja muito paradoxal a própria vida, é bem lembrado por Priscila que, mesmo no furacão, há um olho (centro) que tudo vê, que tudo faz serenar, que faz abrir asas de voar imensidão em nós.
Em ‘Alas, pétalas & labaredas’ (Curitiba: Coletivo Marianas, 2016), Priscila faz da poesia um outro modo de capturar a essência das paisagens absorvidas por seu atento olhar diante do mundo. Paisagens de dentro e de fora, aquelas que não alcançamos de imediato ao simplesmente observar o passar ligeiro da vida. Nesse dizer poético sobre o viver no mundo, Priscila mais uma vez mostra como é amiga íntima da palavra, da palavra poética – quase profética. Nada nesse livro é por descuido, mesmo aqueles momentos captados ao acaso no decorrer do tempo que passa e deixa rastros – rastros esses recuperados por Priscila ao costurar as margens – e o centro – do que quer ser dito e ouvido em versos. A poeta movimenta a palavra com malabarismos precisos – e preciosos – como se fosse dela própria a mão fazedora dos gestos imaginários do pensamento, gestos que se deslocam sorrateiramente, perfeitamente em cada verso, bailarinos da forma em palavras bem ditas. É possível vislumbrar a dança que a autora faz acontecer entre a palavra e a poética da palavra. Porque nada é disperso, ainda que haja vento – e asas, e música – na poesia de Priscila. Como bem descreve Isabel Jasinski na apresentação da obra, “(…) a poesia, nesse livro, não se separa da vida, mas vive nela. É a chance de olhar de novo sobre as coisas, um cenário, uma fotografia, uma lembrança (…)” (2016, p. 8).
Em seu mais recente livro, intitulado ‘Encontros desconcertantes’ (Curitiba: Insight, 2018), Priscila faz poesia com palavras e imagens, numa mistura incrivelmente deliciosa de ver – e ler! Como muito bem dito na quarta capa, “encontros desconcertantes é palavra e imagem. É poesia que se desconcerta quando encontra o olhar, a escuta, a alma do leitor. Desconcerta-se e segue. Aberta”. O livro todo mergulha nesse recorte mágico entre imagem e palavra e, sendo assim, o que a palavra não alcança, a imagem que a circunda dá conta de o fazer, e vice-versa (ou vice-verso?), num encantador jeito de fazer acontecer o encontro com o mundo, com o outro, com o limite, o encontro com o tempo, com a poesia, com a natureza, para, ao final, reverberar tudo isso bem fundo, no encontro consigo mesma.
Priscila não se atém apenas a escrever. Também se divide entre a produção de seus livros, palestras, e participação em feiras e eventos literários. Seu projeto de vida inclui continuar a escrever sempre, pois que a inspiração lhe chega diariamente, seja na observação da natureza, das relações pessoais, da percepção do mundo ao redor e do mundo interior. Priscila respira poesia, seu olhar é atento, sensível, captando a todo momento a realidade e os vãos que se deixam vislumbrar nos instantes de devaneios e que são rapidamente captados pela escrita sensível da poeta.
Nas palavras da própria escritora: “Meu processo de criação é variável. Às vezes o poema nasce pronto. Às vezes precisa ser construído, arquitetado, modelado. Às vezes leva anos para chegar ao ‘clic’ que confirma que está pronto. São sentimentos. Constatações. Sentimentos diante de constatações – e vice-versa. Tentativas de apreender o inapreensível, de explicar o inexplicável, de comunicar o incomunicável. É: é uma forma de comunicação. Mesmo sabendo que cada leitor vai ter uma leitura que é só sua – provavelmente nunca o que escrevi. E essa própria potencialidade de leituras mais amplas é moto para continuar a escrever”.
A poesia de Priscila é um lugar, e também um não-lugar, onde todas as coisas (e não-coisas) são bem-vindas na morada da palavra. Eis que ela encontra espaços longínquos para trazer à tona a poesia escondida entre horizontes, águas, estrelas, contornando os mistérios e simplicidades da natureza. Traz o humano para explicar a palavra, ou que a palavra nos traga a chave do humano e mais que humano em nós. Muitas vezes é como se as palavras quisessem escapar ligeiras do mundo das formas, em busca do que as sustenta no etéreo do olhar, porque em sua poesia o verbo sempre terá como falar, gritar ou cantar, porque, afinal, como dizia o filósofo Gaston Bachelard: “Uma página em branco dá o direito de sonhar”. E um sonho dá o direito de viver – no real e no imaginário!
A militância poética de Priscila Prado, escritora e tradutora, aliando ações culturais individuais e a participação em coletivos de apoio, valorização, divulgação da literatura e da arte em geral.
Nic Cardeal
SE ACORDAS
E NÃO TE LEVANTAS
OS SONHOS PERMANECEM
NO TRAVESSEIRO
literatura, filosofia, vida, morte, arte - e outras bobagens da pauta de poeta
direitos autorais de prosa, poesia e imagens: Priscila Prado, exceto quando expressa referência.
…não somos todos?
Poeta, ator, letrista, performer e sobretudo escorpiano, Jorge Salomão. Irmão de Waly, foi um dos agitadores que alimentaram o folclore do desbunde carioca. Hoje, depois de lançar livro e de ser tema de uma mostra de poesia visual, zomba da nostalgia dos amigos e mostra-se afiado em outro papel, o de frasista.
Fonte: Folha de S. Paulo
…digo: estão A FAZER ARTE!
Fonte: Folha de S. Paulo
O Coletivo Era Uma Vez é um grupo colaborativo de escritores e ilustradores de literatura infanto-juvenil de Curitiba.
Roda de conversa sobre autoria de mulheres com mediação do Coletivo Marianas.
O Mulherio das Letras, criado em 2017, é um coletivo feminista literário,